Semana passada mudei de endereço. Estou agora num apartamento maior, localizado num lugar tranquilo, diferente do outro, que se localizava num lugar meio esquisitinho e onde, muitas vezes, os amigos se perdiam tentando encontrar.
A mudança foi cansativa, mas à proporção que fui desarrumando lá para depois arrumar aqui, fui fazendo um caminho emocional de volta ao primeiro dia que entrei no antigo apartamento.
Lembrei-me de toda expectativa que cercava aquele contrato de aluguel. Naquela época, tinha decidido com alegria e amor que, depois de muito tempo sem acreditar em casamento, queria sim dividir minha vida com aquele homem, cuja simples presença, coloria minha vida. Aquele amor, que solicitava de forma urgente horas a mais de carinho, dormir e acordar juntos, ausências com certeza de presença e escovas de dente entrelaçadas, foi desconstruindo todas as minhas certezas e quebrando a minha sólida resistência em me lançar no mundo dos casados, mundo, aliás, com o qual o meu espírito livre e temperamento independente, jamais cogitaram passar ao largo, que dirá estar inserida novamente. Mas, a vida sempre me surpreende, e me encontrei toda derretida e boba com a ideia de compartilhar sentimentos e espaços com alguém que amava.
Infelizmente, nada aconteceu como planejamos. Ele se apaixonou por outra e eu fiquei curtindo minha dor de cotovelo sozinha, tendo como testemunhas as paredes daquele lugar. Fazer o que? Coisas da vida, que não entendemos, mas que somos obrigados a aceitar, como um remédio ruim que desce goela abaixo.
Neste meu caminho de volta, fui revendo cada momento que passei naquele espaço. Os dias de sofrimento, as inúmeras visitas carinhosas, os medos, os momentos de superação de obstáculos, as paixões loucas e desvairadas, como toda paixão é, as conquistas profissionais, as idas e chegadas de viagens, as noites insones, as lágrimas, as alegrias reveladas em gargalhadas, que são minha marca registrada... Cada parede daquelas, presenciou muitos capítulos de minha vida.
Quando a mudança partiu e o apartamento estava completamente vazio, sentei no chão e chorei. Chorei por vários motivos juntos: emoção por encerrar uma etapa e inaugurar outra, uma pontinha de tristeza por tudo que poderia ter sido ali e não foi, alegria por ter sobrevivido ao sofrimento e me encontrar agora inteira e feliz, com projetos novos, casa nova e Tudo novo de Novo.
Fechei aquela porta, deixando as decepções lá trancadas e entrei em minha morada nova com o pé direito, trazendo o aprendizado e a certeza que serei muito feliz neste meu novo espaço.
Assim seja!
"Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora,
Cada um de nos compõe a sua história, cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz."
Almir Sater