quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Irmandade da Boa Morte

A história da confraria religiosa da Boa Morte se confunde com a maciça importação de escravos da costa da África para o Recôncavo canavieiro da Bahia, em particular para a cidade de Cachoeira.

O fato de ser constituída apenas por mulheres negras, numa sociedade patriarcal e marcada por forte contraste racial e étnico, emprestou a esta manifestação afro-católica notável fama. Há que acrescentar ao gênero e raça dos seus membros a condição de ex-escravos ou descendentes, importante característica social sem a qual seria difícil entender tantos aspectos ligados aos compromissos religiosos da confraria, pois os antigos escravos cultuavam a religião dos dominantes sem abrir mão de suas crenças ancestrais.

A história dessas notáveis mulheres cachoeiranas continua a desafiar pesquisadores. Seus rituais secretos ligados ao culto dos orixás são importantes na manutenção dessa vertente religiosa. Durante o começo do mês de agosto, uma longa programação pública atrai a Cachoeira gente de todos os lugares. Ceias, cortejos, missas, procissões, samba-de-roda colocam cerca de 30 remanescentes da Irmandade, que já possuiu mais de 200, no centro dos acontecimentos da cidade. A festa tem um calendário que inclui a confissão dos membros na Igreja Matriz, um cortejo representando o falecimento de Nossa Senhora, uma sentinela, seguida de ceia branca, obedecendo a costumes religiosos que interditam o acesso a dendê e carne na sexta-feira, dia dedicado a Oxalá, criador do Universo, e procissão do enterro de Nossa Senhora da Boa Morte ou assunção de Nossa Senhora da Glória, onde as irmãs usam trajes de gala. A contagiante alegria dos cachoeiranos irrompe em plenitude, nas cores, comida, bastante música e dança que se prologam por diversos dias.

Este ano, pela primeira vez, tive o  prazer de participar da festa da Boa Morte em Cachoeira. É realmente emocionante! A cidade respira sincretismo e recebe os visitantes com muita alegria.

Participar de uma celebração católica, que homenageia uma irmandade ligada ao culto de orixás, foi uma experiência, no mínimo, interessante. O que fica mais evidente, para quem participa da festa, é o enorme respeito entre as duas vertentes religiosas.

Além de minha admiração por toda simbologia e história da festa, ainda tive a oportunidade de conhecer um pouquinho mais Cachoeira. Acompanhada de amigos muito especiais, pude encontrar toda cultura do Recôncavo num só lugar. As ruas e ladeiras de Cachoeira despejam arte e história no espírito dos visitantes. Artistas se movimentam pela cidade, numa espécie de bailado cultural. Lindo de se ver! Para mim, leitora fiel de Jorge Amado, que sempre retratou as lutas e vitórias do povo do Recôncavo baiano, foi uma verdadeira viagem ao universo de um dos meus autores preferidos. Isso sem falar na deliciosa maniçoba, preparada por minha amiga Cris, cachoeirana por opção, que alimentou o corpo e a alma, já embriagada de beleza e emoção.
O domingo foi repleto de informações, alegria, emoção, encantamento... Mas, o melhor mesmo, foi compartilhar tão ricas experiências com amigas que amo.

7 comentários:

  1. Amiga...arrepiou!!!!
    Depois de um relato desses quem nunca foi fará de tudo pra ir. Com a esperança de sentir um pouquinho dessa magia q vc descreveu tão bem.
    E, com certeza, tudo vale bem mais a pena acompanhada por pessoas tão especiais como vcs.
    Bjs♥

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  2. Adorei a aula. Viver a História é fantástico. A maniçoba deu até água na boca (rsrsrs). Beijos.

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  3. Amiga, vc bem sabe que foi pura magia mesmo!!!!
    Amoooooo vc!

    Luis, no próximo ano, espero ter o casal como companhia na famosa maniçoba! rs

    Bjin

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  4. Opa! O casal???

    Linda festa, lindas palavras, Katita.

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  5. primaaaa
    confessa, qeu bateu cabeça e fez a gira...rs pensas que suas madeixas louras, encobre, essa raça negra que pulsa em vc!!
    agora, maniçoba...me fez lembrar a vez que vc fez a Kari, subir uma ladeira no dique do tororó com o uno lotado ( coração de mae)), para ir comer uma maniçoba na casa da Marisa, em plena segunda de carnaval...coisas de Kátia...
    mas, acredito ser uma experiencia unica esta em cachoeira nessa festa...mas, vc como sempre sabe passar a energia em suas palavras...
    mas, que vc deve ter rodado nos calcanhares, deve.... rsrs

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  6. kkkkkkkkk... Primaaaaaa, minha alma é negra sim!!! Agora vc me trouxe uma maravilhosa lembrança. Ah...nunca esquecerei daquela maravilhosa maniçoba, em plena segunda de carnaval , na casa de Marisa. A gente tem histórias que daria um livro, hein prima...kkkkk Não girei nos calcanhares não... Quase...kkkkkkkkkkk Bjsssssssssss

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